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Oncologia em pauta na SOCERGS

A Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul criou o Grupo de Estudos em Cardio-Oncologia, em razão de que os avanços no tratamento dos diversos tipos de câncer têm levado a uma melhora na sobrevida dos pacientes. Porém também aumentaram a morbidade e a mortalidade devido aos efeitos adversos secundários e, com isso, há uma preocupação de que podem levar à morbidade e à morte prematura entre pacientes sobreviventes de tratamento do câncer.


O Grupo tem entre os objetivos:

- Difundir, entre os cardiologistas e oncologistas, além de médicos de outras especialidades, a importância do conhecimento e pronto tratamento de todos os tipos de cardiotoxicidade, visando minimizaras complicações dos tratamentos oncológicos;


- Ressaltar a importância do atendimento conjunto dos pacientes pela oncologia e cardiologia para evitar o desenvolvimento de morbidade e morte prematura cardiovascular;


- Dar acesso aos novos conhecimentos, bem como aos novos quimioterápicos e novos tratamentos radioterápicos que levam ao risco de cardiotoxicidade;


O Grupo pretende realizar atividades científicas e educacionais, acompanhando continuamente as novas evidências e os novos tratamentos.

 

Na primeira reunião, realizada no dia 9 de maio, com a liderança do médico Eduardo Schlabendorff, foi discutido o resumo do Ensaio Clínico CECCY (Carvedilol for Prevention of Chemotherapy Related Cardiotoxicity).

“Esse estudo CECCY foi apresentado na sessão mais importante do Congresso do Colégio Americano de Cardiologia (ACC 2018) e aceito para publicação no Journal of the American College of Cardiology (JACC), sendo realizado pela Dra. Mônica Samuel Ávila que é uma médica cardiologista brasileira que desenvolveu esse estudo prospectivo, randomizado, duplo-cego e placebo-controlado para avaliar o uso de carvedilol para prevenção de cardiotoxicidade relacionada a quimioterapia. O estudo analisou mulheres com diagnóstico de câncer de mama HER2-negativo que fizeram tratamento quimioterápico que incluía o uso de antraciclina (doxurrubicina) + ciclofosfamida por 4 ciclos seguidos de mais 8 aplicações de paclitaxel, perfazendo 20 semanas de tratamento.


A dose de doxurrubicina alcançada foi de 240 mg/m2, dose essa considerada uma dose contemporânea dessa droga que é menor do que a praticada no passado, que foi ajustada para tal ao longo dos anos para reduzir a incidência de cardiotoxicidade pelo efeito dose-dependente da antraciclina. Entraram no estudo 200 pacientes com fração de ejeção normal ao ecocardiograma atendidas no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) que eram encaminhadas para o Instituto do Coração (INCOR). As pacientes foram randomizadas para receberem placebo ou carvedilol, sendo as doses tituladas conforme a tolerância de 6,25mg/dia, 12,5mg/dia, 25mg/dia e 50mg/dia divididas em duas doses diárias. O desfecho primário foi a capacidade de prevenir uma redução de 10% na fração de ejeção basal ao final de 6 meses do início do tratamento. Como desfechos secundários foram incluídas dosagens de troponina I e de BNP, além da avaliação da disfunção diastólica. A média da idade das pacientes foi em torno de 51 anos. Ao final do estudo as doses máximas toleradas de carvedilol foram 18,5mg por dia e 22,2mg ao dia de placebo. Como resultado principal encontrou-se o desfecho primário em 14,5% no grupo carvedilol e 13,5% no grupo placebo sem diferença estatisticamente significativa, ou seja, o carvedilol não foi capaz de prevenir o desenvolvimento de cardiotoxicidade. Cabe-se ressaltar que a incidência de desfechos primários foi menor do que era esperada e utilizada para cálculo da amostra, bem como a dose máxima tolerada de carvedilol foi muito abaixo das almejadas, diminuindo assim a chance de se comprovar benefícios da droga em estudo nessa amostra de pacientes. Além disso, sabe-se que muitos pacientes desenvolvem cardiotoxicidade aos antracíclicos mais tardiamente, sendo então o tempo de seguimento considerado curto para poder avaliar o surgimento de cardiotoxicidade.

O carvedilol, em análise dos desfechos secundários pré-especificados nesse estudo, foi capaz de reduzir o pico de troponina I de forma estatisticamente significativa (p=0.003). O grupo tratado com carvedilol também apresentou menores taxas de desenvolvimento de disfunção diastólica em relação ao placebo (p=0.039), sendo esse um importante resultado pois os pacientes que utilizam essa dose contemporânea de doxurrubicina tem mais riscos de terem a disfunção diastólica do que a sistólica que normalmente é evidenciada com doses maiores de antracíclicos. Houve também uma tendência não-significativa de redução na incidência de aumento do diâmetro diastólico final do VE em favor do carvedilol com p=0.057. Não houve mudança nas dosagens de BNP ou da fração de ejeção entre os grupos ao longo do estudo. Como conclusão, verificou-se com esse que foi o maior ensaio clínico com o uso de betabloqueadores na prevenção de cardiotoxicidade, e que, apesar de não se verificar diferença na capacidade de prevenção da queda da fração de ejeção maior que 10% entre os grupos carvedilol e placebo, que era a definição de cardiotoxicidade para a época de início do estudo, houve importantes reduções na disfunção diastólica e no pico de troponina I que sugerem um importante efeito do carvedilol reduzindo a lesão miocárdica e alterações diastólicas que comprometem as pacientes submetidas a esses tratamentos com potenciais efeitos adversos cardíacos".

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